Insula Deliciosa

Em um instante fugaz, tecemos memórias que pulsam vida. No ritmo urgente do tempo, congelamos o tempo e a imaginação para criar fábulas. Essas fábulas, corporificam novos horizontes de futuro. Elas esculpem imagens que dão forma às identidades, não para nos apartar, mas para nos envolver, compartilhar espaços e construir pequenos universos onde ecoam metáforas e sonhos.

A jornada da pesquisa “Insula Deliciosa” teve início em 2019, no coração vibrante da Parada do Orgulho LGBT+BH, mas logo se espalhou além das ruas festivas. Passei a retratar corpos-imagem, identidades em suas múltiplas encarnações: nas ruas da cidade, em saunas, sob os holofotes das festas e nos camarins de teatros, até mesmo na intimidade do lar. Através destas imagens, busco construir uma teia de lembranças que fortaleça a história do movimento transformista/drag queen na cidade de Belo Horizonte.

Explorando a fotografia experimental em campo expandido, na estética “drag”, a multiplicidade de corpos em constante reconfiguração é o ponto de partida. A proposta se entrelaça com a autoidentificação e a visibilidade, explorando como as pessoas se veem e como desejam ser vistas. A construção da imagem emerge da desconstrução do gênero, e o resultado é uma imagem-síntese que se situa entre o sonho e a realidade, expandindo os limites pessoais além da norma heteronormativa – uma afirmação política por si só.

Ao longo desse percurso, são criados laços afetivos e redes de apoio. Emergem cosmos nos quais a energia flui e regras próprias são estabelecidas para permitir nossa existência plena. A dinâmica é baseada na doação, não em transações. Cada imagem criada para outra pessoa amplia o cosmos de ambos, gerando poder para ampliar vozes e visibilidade. Isso é a prática da “queertopia”, uma forma de imaginar futuros que questiona as utopias de nossos corpos e perspectivas de afeto e apoio.

 

Mesmo que o trabalho tenha sido realizado com o uso de tecnologia digital, aproveito para experimentar processos híbridos (mesclando digital e analógico) através da combinação de filtros e lentes analógicas aplicadas a câmera digital. Por exemplo, para documentação das Paradas do Orgulho LGBT+BH, realizadas entre 2019 a 2023, utilizo a câmera digital + filtro analógico Cozo Mirage 52mm com o intuito de ressaltar o caráter multiplicador das personas ali em questão, isolar os ruídos ao fundo, destacando a personalidade fotografada. Entre o sonhar e ser, o olhar reside, expandindo horizontes para além do comum. Além das imagens, também foi produzida a videoarte “O Patinho Feio” inspirada pelo conto de Hans Christian Andersen e interpretada pela drag não binária Carambola.

 

Cada bloco conceitual busca ampliar estratégias narrativas que transcendem a mera documentação, envolvendo-se profundamente com as questões de fabulação, identidade, gênero, memória e comunidade.

Técnica

Fotografia, videoarte, performance

Data

2019 — até a presente data

Local

Belo Horizonte/MG